sexta-feira, 14 de junho de 2013

JUSTIÇA DIVINA. – A Oportunidade Redentora.

Quando se refere a Deus – sobre Sua justiça ou sobre Sua vontade – pode-se apenas conjeturar a este respeito. O mais prudente é sempre buscar referências em Jesus e nos estudiosos de seus ensinamentos, considerando que Jesus é o ser mais próximo do entendimento de Deus em que a humanidade pode se embasar.

A referência maior de Jesus encontra-se no evangelho, e sendo assim, deparamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap.V, it.3, Justiça das Aflições - com o seguinte trecho:
“Entretanto, desde que se admite Deus, não é possível concebê-lo sem o infinito das perfeições(...). Sendo ele soberanamente bom e justo, não deve agir por capricho e com parcialidade. As vicissitudes da vida têm portanto uma causa, e, uma vez que Deus é justo, essa causa deve ser justa”.
Após a citação acima se pode considerar que a justiça de Deus é sempre conduzida para educar a criatura humana e nunca para puni-la; pois antes de ser justiça, Deus é amor. Se a justiça conduz à educação, é sinal que o ser humano não está convenientemente educado.

Como individualidade dotada de livre-arbítrio, o ser humano terá de conduzir sua educação através da eternidade para a qual foi criado. Se comparada à eternidade, uma única existência no plano material não passa de uma ínfima fração. Como é possível se educar completamente em tão curto espaço de tempo, já que a vida física no mundo material, ou seja, a encarnação, é fundamental para o desenvolvimento mental? A justiça de Deus oferece às criaturas novas oportunidades para o prosseguimento do aprendizado através da reencarnação. O aprendizado iniciado em uma encarnação poderá e será concluído nas demais. E ainda, a oportunidade perdida em uma encarnação, será oferecida em outras, seguindo a Lei de evolução.

Para entender o motivo dos acontecimentos difíceis que ocorrem na vida, entender a razão das coisas em serem como são - a explicação das doenças, das mortes repentinas, as justificativas de toda forma de sofrimento - deve partir sempre da afirmação revelada por Jesus: Deus é amor.

Aquele que ama incondicionalmente não quer a punição nem o castigo do ser amado, e sim, que ele corrija sua conduta e coloque-se no caminho do bem, pois sabe que assim ele alcançará, por si, a felicidade plena. Mas o ser humano, invariavelmente, se depara com algumas questões, tais como: - "sofro porque estou pagando pelos meus pecados", "devo quitar meus débitos do passado". Ao pensar assim, desvia-se da afirmação de Jesus, pois se coloca Deus como um ser implacável que vem cobrar uma reparação.

Afinal, o que significa: pagar pelos pecados? Quando um indivíduo comete um erro, contra si ou contra outra pessoa, tal ato fica gravado em sua consciência (em sua mente). Em um primeiro momento, não percebendo a gravidade da transgressão, ele a ignora. Mas na medida em que ele evolui na escala moral, a compreensão do erro fica mais nítida e instala-se na sua consciência a culpa. A questão primordial é: como se livrar da consciência culpada? Por que culpar a Deus se o transgressor agiu segundo seu livre-arbítrio?

Se há algo implacável com o ser humano é sua própria consciência, o que se confirma em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, it.7, em um trecho sobre o Dever:
“O dever é obrigação moral perante si mesmo e perante os outros(...). O dever cardeal do homem está confiado ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, esse vigia da probidade interior, o adverte e sustenta, conquanto às vezes permaneça impotente diante dos sofismas das paixões”.
Vejamos uma situação: um assassino comete crimes apoiado por sua indiferença à vida, rudeza de caráter ou simplesmente pelo prazer no sofrimento que causa. Assim age por sua atual condição moral inferior. Como a Lei de evolução é uma Lei divina, determinante da condição humana, o assassino em questão também alçará um nível de entendimento moral superior no decorrer dos tempos. Passado um tempo, ele acaba por reconhecer o valor à vida; o instinto violento já foi suprimido, mas ele não está em paz. Como diz a citação acima, o "aguilhão da consciência" o atormenta ininterruptamente com a visão do mal que praticou e das vidas que ceifou. Ele está arrependido, mas só isso não é suficiente para aplacar a culpa. O que fazer para libertar os pensamentos das visões tenebrosas do sofrimento que causou?

É na hora de maior aflição que se manifesta a bondade infinita de Deus. Deus oferece ao indivíduo cheio de remorso a oportunidade de livrar-se, ele próprio, da culpa alojada em sua consciência, onde a consciência culpada aprisiona a mente naquela situação incômoda. A oportunidade nada mais é do que conduzir o indivíduo por uma situação reparadora, libertando-o e dando paz. A situação será mais dolorosa quanto maior for o mal praticado, mas assim é necessário, pois é a consciência, e não Deus, que é severa com o indivíduo. A situação reparadora aproxima-o de desafetos, coloca-o diante do padecimento das enfermidades, permite que ele enfrente outra vez uma situação a qual falhou em outra vida, enfim, são inumeráveis as provações da vida. É a redenção dos culpados.

Um trecho significativo encontra-se no livro Palavras do Infinito de Humberto de Campos no cap.V, onde Judas Iscariotes diz:
“(...) fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência(...). Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores”.
Pela citação acima se cumpre a lição de Jesus: "o amor cobre a multidão de pecados".  
E ainda no livro Roteiro no cap.XL, pág.169Emmanuel comenta:
“A Justiça reina, imperecível. Quem humilha os outros será humilhado pela própria consciência”.
A justiça de Deus atua na consciência das criaturas; não há juízes, não há cobradores da justiça divina. E quem se prestaria a esse serviço? Na justiça de Deus não há punição, pois quem ama não pune, tudo é aprendizado para a criatura. O indivíduo que pratica o mal sofrerá as consequências em sua própria consciência e buscará ele mesmo o alívio, no tempo em que julgue necessário; o amor divino o acolherá. Porém, o alívio pode vir de maneira dolorosa e sofrida, na medida correta para acalmar a consciência culpada. A dor é a oportunidade oferecida à consciência em conflito para que ela se harmonize e cresça.

Como é bom ser filho de um Pai que nos trata com tanto amor e dignidade!